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Teologia
01/11/2021
Telescópio – 268
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Foto: Nathan Mullet / Unsplash

Momento especial

Pastores destacam a importância da música nos cultos para a vida do cristão

Por Evandro Teixeira

Foi a partir da Reforma Protestante, no século 16, que o canto congregacional e a pregação da Palavra de Deus, em linguagem popular, passaram a fazer parte da liturgia cristã. Anteriormente, somente os clérigos cantavam, e as celebrações eram em latim. Assim, há cerca de 500 anos, os cultos evangélicos mantêm características bastante parecidas. Suas reuniões são, basicamente, divididas em duas partes principais: a adoração congregacional, em forma de música, e o ensino das Escrituras Sagradas.

A pandemia da covid-19, entretanto, privou várias igrejas da experiência do louvor comunitário, já que inúmeras congregações ao redor do globo passaram meses com as portas cerradas, em prol do distanciamento social. Apesar de a pandemia ainda não estar totalmente controlada, os cultos presenciais retornaram gradativamente, com algumas restrições. Nesse contexto de “novo normal”, o instituto de pesquisas norte-americano Barna Group divulgou um estudo sobre como os cristãos se sentem após participarem de cultos presenciais. De acordo com o levantamento, realizado apenas nos Estados Unidos, a maioria dos entrevistados revelou experimentar sentimentos positivos após as celebrações públicas: 82% declararam que se sentiam mais encorajados após as reuniões; 78%, mais inspirados, e 77%, mais conectados com Deus. A pesquisa também mostrou que 77% dos respondentes declararam que se sentiam perdoados, e 71% disseram sair dos cultos com a sensação de ter aprendido algo novo.

O Prof. Jeremias Bispo Neves, do IETEP, na Região Serrana fluminense, lembra que música congregacional e ensino das Escrituras, no contexto do culto cristão, são elementos complementares Foto: Arquivo pessoal

O Prof. Jeremias Bispo Neves, do Instituto de Ensino Teológico de Petrópolis (IETEP), na Região Serrana fluminense, lembra que música congregacional e ensino das Escrituras, no contexto do culto cristão, são elementos complementares. Segundo ele, a primeira é responsável por promover impulsos, emoções e motivações no indivíduo, levando-o a uma entrega total a Deus, o que favorece a ministração da Palavra. “É exatamente nesse momento que o coração fica preparado para ouvir a pregação”, explica.

Jeremias Neves destaca que, no momento do louvor comunitário, cabe ao ministro o papel de conduzir toda a igreja à verdadeira adoração. Para desempenhar tão importante tarefa, de acordo com ele, é preciso haver preparo espiritual, emocional e técnico. “Além de ter uma vida de comunhão com Deus, ele deve ser equilibrado e ter a sensibilidade necessária para escolher o repertório. Para tanto, oração e leitura bíblica são imprescindíveis”, observa o professor, assinalando que a música, como expressão artística, tem o poder de atrair as pessoas – incluindo aquelas que não são cristãs – aos cultos de adoração. “Está na ‘veia’ e no coração das pessoas. É algo irresistível”, pontua.

O Pr. Márcio Alves Santana, líder nacional de juventude da IIGD, destaca que a música pode ser usada pelo Senhor, e lembra a influência que teve o ministério musical de Davi sobre a saúde mental do rei Saul Foto: Arquivo Graça / Marcelo Santos

Verdadeiros adoradores Pensamento semelhante tem o Pr. Márcio Alves Santana, líder nacional da juventude da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD), o qual destaca que a música pode ser usada pelo Senhor. Ele lembra a influência que teve o ministério musical de Davi sobre a saúde mental do rei Saul: E sucedia que, quando o espírito mau, da parte de Deus, vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa e a tocava com a sua mão; então, Saul sentia alívio e se achava melhor, e o espírito mau se retirava dele (1 Sm 16.23). O pastor destaca que muitas pessoas só conseguem abrir o coração para ouvir a mensagem de Deus após o momento de adoração pública. “Por isso, essa parte do culto deve estar sempre em sintonia com a pregação.”

O Pr. Octávio Costa Flores afirma: “Algumas [pessoas] chegam [à igreja] com barreiras criadas por elas mesmas e que são derrubadas durante esse instante de intimidade com o Eterno” Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Octávio Costa Flores, líder da IIGD em Timóteo (MG), concorda com Márcio Santana e assinala que, em geral, durante o momento de adoração, as pessoas tendem a se abrir mais para Deus. “Algumas chegam com barreiras criadas por elas mesmas, que são derrubadas durante esse instante de intimidade com o Eterno.” Em sua opinião, além de experimentar sensações positivas, como sentir-se encorajado, o participante do culto pode ser levado a refletir sobre eventuais erros cometidos. “Afinal, a Palavra de Deus está expressa nas canções”, destaca o pastor, citando o texto de 2 Timóteo 3.16: Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça.

No entanto, o pastor e cantor Fernandes Lima, da Graça Music, lembra que, para adorar ao Senhor em Sua essência, o cristão não depende de cânticos. Citando a conhecida passagem de João 4.23 (Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem.), o cantor defende a ideia de que o momento do culto destinado à adoração comunitária deve estar concentrado na exaltação única do Altíssimo, pois apenas Ele é digno de todo louvor. De acordo com o pastor, as composições divinamente inspiradas são capazes de falar profundamente ao coração e transformar vidas. E, por isso, assegura que o louvor sincero vai muito além de simples manifestações emocionais. “Ao adorar ao Senhor, alcançamos a fé genuína. Há uma grande diferença entre emoção e fé, em um culto prestado a Deus.”

O pastor e cantor Fernandes Lima, da Graça Music, lembra que, para adorar ao Senhor em Sua essência, o cristão não depende de cânticos Foto: Arquivo Graça / Solmar Garcia

O Pr. Vinícius Guedes Gomes, líder da Igreja do Evangelho Quadrangular de Tinguazinho, em Nova Iguaçu (RJ), observa que o culto deve ser racional, conforme registra Romanos 12.1 (Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional). “Por meio desse texto, entendemos que somos templo do Espírito Santo. Por isso, devemos nos apresentar ao Senhor como sacrifício vivo. Nossa adoração não deve se limitar ao momento do culto, mas ser algo constante.” Citando também o texto de João 4.23, acerca dos verdadeiros adoradores, Gomes frisa ser essencial que os participantes do culto ao Altíssimo tenham compromisso com o Reino de Deus e responsabilidade com Sua obra. “Quem se achega ao Eterno com esse foco é por Ele capacitado.”

O Pr. Vinícius Guedes Gomes observa que o culto deve ser racional, conforme registra Romanos 12.1: “Por meio desse texto, entendemos que somos templo do Espírito Santo. Por isso, devemos nos apresentar ao Senhor como sacrifício vivo. Nossa adoração não deve se limitar ao momento do culto, mas ser algo constante” Foto: Arquivo pessoal

Terra fértil – A psicóloga Priscila Neves Moreira, mestre em Ciências da Religião, entende que, no ambiente espiritual do culto, emoção e razão são sentimentos que coexistem e não se separam. Para ela, dentro da liturgia, as emoções não são inimigas da espiritualidade. “Elas agem mutuamente em todas as atividades diárias. Por meio delas, conhecemos a intimidade das pessoas e aquilo de que realmente necessitam para terem suas dores e seus traumas curados.” A especialista ressalta que, de modo geral, as emoções são afetadas por uma série de elementos, muitos deles relacionados à história de vida de cada pessoa. “A música tem o poder de ativar memórias e sentimentos que fazem referências a elementos subjetivos”, explica.

A psicóloga Priscila Neves Moreira entende que, no ambiente espiritual do culto, emoção e razão são sentimentos que coexistem e não se separam: “Elas agem mutuamente em todas as atividades diárias” Foto: Arquivo pessoal

A Pra. Eristélia Bernardo Martins, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus em Santos Dumont (MG), acredita que os cultos devem ser focados na pregação do Evangelho, pois é a Palavra que liberta e santifica. Segundo ela, priorizar emoções, além de mostrar-se contrário ao que a Bíblia ensina, pode ser temerário. “Corremos o risco de gerar crentes fracos na fé”, adverte a líder, acrescentando que, para algumas pessoas, as verdades bíblicas podem não ser tão atraentes, por exemplo, quando são textos que exortam a uma vida de santidade e compromisso incondicional com o Reino. “De certa forma, em meio aos cânticos, nem sempre as advertências bíblicas são recebidas com o devido peso, se as pessoas estiverem apenas embaladas pela emoção das canções”, opina.

A Pra. Eristélia Bernardo Martins acredita que os cultos devem ser focados na pregação do Evangelho, pois é a Palavra que liberta e santifica Foto: Arquivo pessoal

Na visão do Pr. Marlei Vagner Lúcio, da IIGD em Barbacena (MG), a prioridade deve ser sempre buscar que o ouvinte receba a mensagem e que ela produza frutos, como semente boa em terra fértil. Por isso, o pastor destaca a grande responsabilidade que pesa sobre pregadores e ministros de louvor. “Cantando ou pregando, como canal de Deus, eles têm de estabelecer uma comunicação clara com a igreja”, afirma o líder, lembrando que o verdadeiro culto não se resume a sensações boas ao final da reunião, como revelou a pesquisa norte-americana citada no início desta reportagem. Para ele, consiste no fato de o cristão adotar para si uma vida de retidão diante do Altíssimo, conforme exorta o texto de Hebreus 13.15: Portanto, ofereçamos sempre, por ele, a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome.

O Pr. Marlei Vagner Lúcio afirma que a prioridade deve ser sempre buscar que o ouvinte receba a mensagem e que ela produza frutos, e, por isso, pesa grande responsabilidade sobre pregadores e ministros de louvor: “Cantando ou pregando, como canal de Deus, eles têm de estabelecer uma comunicação clara com a igreja” Foto: Arquivo pessoal

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