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Foto: Pexels / Moose Photos

Domínio próprio

Pastores e especialistas apontam as razões e as consequências da falta de autocontrole presente na sociedade moderna

Por Evandro Teixeira

Em artigo postado no portal de notícias britânico Christian Today, o escritor e apologista norte-americano Jerry Newcombe criticou a falta de autocontrole que tomou conta da sociedade moderna. Segundo ele, trata-se de um mau comportamento que está muito presente na cultura atual e se expressa, por exemplo, no uso desmedido de celular; na fala sem limites (sobretudo nas redes sociais); nos gastos financeiros descontrolados e até mesmo nos hábitos alimentares exagerados. Ele observa que esse descontrole generalizado tem atingido também os cristãos e lembra que isso contraria frontalmente a Palavra, a qual é clara ao afirmar que o domínio próprio, ou temperança, é uma das evidências da presença do Espírito Santo na vida do servo de Deus (Gl 5.22,23): Quando a pessoa se converte de coração, verdadeiramente, logo experimenta um novo nível de autocontrole. É o que mais precisamos em nossa sociedade.

O aposentado Rui Batista de Oliveira, 60 anos, é um exemplo de coração transformado. Ex-fanático torcedor do Palmeiras, ele relata que, desde 1982, metade do seu guarda-roupa era de peças desse time. Por causa daquela paixão descontrolada, chegou a fazer várias inimizades, principalmente depois que passou a usar as redes sociais. Àqueles que questionavam sua devoção ao clube sempre dizia: “Na minha vida, em primeiro vem Deus, depois o Palmeiras”.

O aposentado Rui Batista de Oliveira na Igreja da Graça: experiência com o Espírito Santo em 2020, que o tocou profundamente, fez com que ele reavaliasse sua vida e buscasse uma mudança”
Foto: Arquivo pessoal

Ocorre que esse comportamento de Rui afastava as pessoas. Ele, aliás, atribui àquele fanatismo o fato de estar solteiro até hoje. Em 2015, passou pelo batismo nas águas na Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Santa Luzia (MG), mas se afastou do Evangelho. Porém, a paixão pelo time alviverde continuava firme e forte. Em 2020, voltou a frequentar a Igreja da Graça e teve uma experiência marcante com o Espírito Santo. Em um dos cultos, a mensagem do pastor o tocou profundamente: tratou da relevância de o cristão estabelecer vínculos sinceros de amizade.

Devido àquele episódio, Rui reavaliou sua vida e buscou uma mudança. O primeiro passo foi parar de dizer palavrões. Hoje, embora ainda torça pela Sociedade Esportiva Palmeiras, deixou de dar tanta importância às coisas do seu time favorito. Assim que acorda, faz sua leitura devocional, ora ao Senhor e sai para sua caminhada diária. Durante o percurso, evangeliza quem encontra na rua. Os embates que travava nas redes sociais sobre futebol foram trocados pela postagem de versículos bíblicos. Para ele, essa mudança de atitude não seria possível sem a ação de Deus. “O Espírito Santo agiu diretamente na minha vida. O Senhor teve misericórdia de mim.”

O Pr. Elder Cavalcante destaca: “A Igreja não só pode como também deve provocar essa mudança na vida das pessoas. Mas isso só é possível a partir de uma entrega total ao Senhor Jesus”
Foto: Arquivo pessoal

Leitura bíblica – O Pr. Elder Cavalcante, líder estadual da IIGD no Rio Grande do Norte, lembra que o homem não consegue mudar e corrigir sozinho suas falhas, pois sua natureza é fraca e corrupta. Somente por intermédio do Espírito Santo é capaz de obter o esperado autocontrole. “A Igreja não só pode como também deve provocar essa mudança na vida das pessoas. Mas isso só é possível a partir de uma entrega total ao Senhor Jesus”, destaca.

O Pr. Antônio Carlos de Andrade Júnior exorta: “A única maneira de ter uma vida controlada é agir sempre conforme a vontade do Pai”
Foto: Arquivo pessoal

Na visão do Pr. Antônio Carlos de Andrade Júnior, líder estadual da Igreja da Graça em Santa Catarina, o indivíduo que não tem autocontrole está sendo levado apenas pelos desejos carnais. E, no caso do cristão, a falta de comedimento é resultado da falta de momentos de qualidade com o Senhor na oração e na leitura bíblica. “Uma vida sem comunhão com Deus conduz o homem à ruína.” Para ele, a solução está em buscá-Lo todos os dias, com dedicação, a fim de se fortalecer espiritualmente. “A única maneira de ter uma vida controlada é agir sempre conforme a vontade do Pai”, exorta o pregador, lembrando as palavras do apóstolo Paulo aos Gálatas: […] Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis (Gl 5.16,17).

Pr. Eric Costa Dias: “Sempre apresentamos às pessoas suas reais possibilidades em Deus, mostrando-lhes que, quando acreditamos no Senhor, uma total transformação é possível em qualquer área da vida”
Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Eric Costa Dias, líder estadual da IIGD em Roraima, destaca que a escassez de autodomínio não é um problema exclusivo da atualidade. O Texto Sagrado mostra que já havia a preocupação com o tema no início da Igreja. Ele recorda que o apóstolo Paulo, falando ao governador Félix, mencionou esse assunto, como se lê em Atos 24.25 (E, tratando ele da justiça, e da temperança, e do Juízo vindouro, Félix, espavorido, respondeu: Por agora, vai-te, e, em tendo oportunidade, te chamarei). Eric Dias explica que Cristo está pronto a operar total mudança naqueles que assim desejarem. “Sempre apresentamos às pessoas suas reais possibilidades em Deus, mostrando-lhes que, quando acreditamos no Senhor, uma total transformação é possível em qualquer área da vida.”

O Pr. Elber Paixão da Conceição enfatiza que o servo de Cristo, desde sua conversão ao Evangelho, tem plenas condições de desenvolver os frutos do Espírito, entre os quais, o domínio próprio
Foto: Arquivo pessoal

Para o Pr. Elber Paixão da Conceição, líder da Igreja Batista Herança da Graça em Lindo Parque, em São Gonçalo (RJ), o descontrole é fruto do desequilíbrio gerado pela entrada do pecado no mundo, a partir da queda do homem no jardim do Éden. Segundo ele, o estado de equilíbrio original somente é reencontrado quando o ser humano se reconecta com Deus, por meio do sacrifício de Jesus. Assim, ele enfatiza que o servo de Cristo, desde sua conversão ao Evangelho, tem plenas condições de desenvolver o fruto do Espírito, e, dentro dele, há o domínio próprio.

De acordo com o líder, a Igreja deve orientar os membros a viver uma vida guiada pelo Senhor, o que é resultado de uma busca pessoal constante. Entretanto, segundo ele, conselhos idôneos, vindos de irmãos em Cristo mais chegados, também são bem-vindos. “Essa conquista só pode ser obtida por meio da oração e leitura bíblica associada à comunhão com o Corpo de Cristo”, resume o pastor. Em seguida, ele cita o texto de Romanos 8.5,6: Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.

A pastora e psicóloga Joserijane Maria e Silva Pontes ensina como os líderes podem dar um bom aconselhamento: “Devem ouvir o aconselhado, ensiná-lo acerca dos princípios bíblicos e, se necessário, encaminhá-lo aos profissionais competentes”
Foto: Arquivo pessoal

Na opinião de Elber Paixão da Conceição, caso o problema permaneça, um pastor deve ser contatado, pois, dependendo da situação, poderá ser necessário encaminhar a pessoa para um especialista. Afinal, a ausência de autocontrole pode gerar frustrações, conflitos internos e sentimentos de autodestruição, entre outros transtornos, como pontua a pastora e psicóloga Joserijane Maria e Silva Pontes, da Igreja do Evangelho Quadrangular em Piedade, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), citando Provérbios 25.28 (Como a cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não pode conter o seu espírito). Ela explica que, para dar um bom aconselhamento, os líderes cristãos precisam estar bem-preparados para a tarefa. “Devem ouvir o aconselhado, ensiná-lo acerca dos princípios bíblicos e, se necessário, encaminhá-lo aos profissionais competentes.”

O pastor e psicólogo Leonardo Luís Távora da Silva informa: “Alguns podem estar sofrendo de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), mas ainda não se deram conta. A ajuda profissional contribuirá para a melhora do comportamento compulsivo”
Foto: Arquivo pessoal

“Comportamento compulsivo” – Especialistas e estudiosos do assunto afirmam que a falta de controle pode indicar que a pessoa desenvolveu um tipo de dependência ou compulsão, o que poderá prejudicá-la, assim como aqueles que estão à sua volta. O pastor e psicólogo Leonardo Luís Távora da Silva informa que, nesse caso, o indivíduo perderá o controle em uma busca exacerbada por algo que lhe traga bem-estar. Esse comportamento, observa ele, pode acarretar diversas consequências negativas.

Leonardo Távora explica que há pessoas que buscam satisfazer-se fazendo compras – algo que pode ocasionar sérios problemas em razão dos gastos descontrolados. Outras que falam demais, sem limites, podem acabar ferindo os outros e prejudicando relacionamentos interpessoais. Indivíduos que vivem assim, geralmente, nem percebem que perderam o controle sobre o que estão fazendo. “Alguns podem estar sofrendo de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), mas ainda não se deram conta. A ajuda profissional contribuirá para a melhora do comportamento compulsivo”, informa o pastor, auxiliar na Primeira Igreja Batista de Irajá, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ).

A psicóloga Ana Lídia Fleury Agel alerta: toda compulsão precisa ser olhada de perto e com atenção, seja ela um descontrole financeiro seja alimentar
Foto: Arquivo pessoal

De acordo com a psicóloga Ana Lídia Fleury Agel, toda compulsão precisa ser olhada de perto e com atenção, seja ela um descontrole financeiro seja alimentar. Para a profissional, trata-se de um comportamento compensatório de alguma disfunção fisiológica ou emocional que precisa de tratamento adequado. A especialista afirma que qualquer um, independentemente da história de vida ou status econômico, pode e deve adquirir a chamada inteligência emocional para ter autocontrole. Ana Agel destaca que psicoterapia, cursos, palestras e leitura especializada podem municiar as pessoas com excelentes ferramentas para desenvolver esse tipo de inteligência e, consequentemente, o domínio próprio. “Quem possui autocontrole consegue construir uma imagem positiva de si mesma em qualquer área da vida.”

Fruto do Espírito

A Palavra de Deus apresenta diversas passagens que tratam a respeito do autocontrole. Nas Escrituras, esse conceito está embutido em dois termos muito conhecidos pelos cristãos: temperança e domínio próprio. Essas duas expressões se opõem frontalmente à ideia mundana de obter prazer a qualquer custo. A noção bíblica de autocontrole também está relacionada à moderação, pois os excessos estão ligados à ideia de pecado. Por isso, o domínio próprio faz parte do fruto do Espírito Santo, o qual precisa estar evidenciado na vida dos salvos (Gl 5.23). Eis algumas passagens que ilustram esses princípios:

Melhor é o longânimo do que o valente, e o que governa o seu espírito do que o que toma uma cidade (Pv 16.32).

E digo isto e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus, pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração, os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para, com avidez, cometerem toda impureza. Mas vós não aprendestes assim a Cristo (Ef 4.17-20).

Foto: Pexels / Andrea Piacquadio

Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o apetite desordenado, a vil concupiscência e a avareza, que é idolatria; pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência; nas quais também, em outro tempo, andastes, quando vivíeis nelas (Cl 3.5-7).

Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra, não na paixão de concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus (1 Ts 4. 4,5).

Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento (1 Tm 3.2,3).

(Fonte: Bíblia Sagrada)


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