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Foto: Pexels / Cottonbro

Afastados da Verdade

Os jovens da geração z têm pouco envolvimento com as Escrituras Sagradas

Por Ana Cleide Pacheco

Todos os anos, a Sociedade Bíblica Americana lança a pesquisa Estado da Bíblia, a qual investiga tendências relacionadas à espiritualidade dos estadunidenses. Entre outros pontos, o estudo avalia o engajamento dos norte-americanos com as Escrituras em diversos aspectos, como frequência de leitura e a influência dos princípios bíblicos sobre sua forma de pensar e de ver o mundo.

A edição mais recente do levantamento demonstrou que a chamada geração z – os nascidos de 1995 e o início de 2010 – tem uma relação bastante precária com a Palavra. Os pesquisadores dividiram esse grupo em dois, classificando-o por faixas etárias. No primeiro, foram reunidos os gen z jovens (de 15 a 17 anos) e, no segundo, foram agrupados os gen z adultos (18 a 26 anos). Não foram considerados aqueles com idades inferiores a 15 anos, que fazem parte dessa geração também (11 a 14 anos).

Um dos tópicos avaliados na sondagem foi o envolvimento (ainda que mínimo) dos entrevistados com a leitura do Livro Santo. Desse modo, a investigação classificou como usuários da Bíblia aqueles que a leem de três a quatro vezes por ano. Apenas 34% dos gen z jovens se qualificaram como tal; entre os gen z adultos, o percentual subiu para 43%. Para se ter uma ideia do distanciamento entre os integrantes da geração z e as Escrituras, basta comparar os dados dela com os coletados entre os entrevistados mais velhos: o percentual de norte-americanos adultos (com idade igual ou superior a 27 anos) que se qualificam como usuários da Bíblia é de 50%.

Foi medido também o engajamento dos estadunidenses com a Palavra, avaliando, além da frequência de leitura, o impacto dela sobre os leitores e o quanto influencia suas decisões e sua forma de ver a vida. Constataram que o indivíduo engajado com o Texto Sagrado interage frequentemente com ele e reconhece que Deus tem influência sobre si. O percentual de gen z jovens que se enquadram nesse perfil é de apenas 9%; entre os gen z adultos, 14%.

A Pra. Nadir Cristina da Silveira, 42 anos, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Indaiatuba (SP), acredita que esse distanciamento da Palavra por parte da geração z não é um problema restrito a essa faixa etária, e sim uma questão generalizada na atualidade. “O mundo é cíclico, e os tempos estão diferentes. Vivemos em um período de profunda mudança espiritual e social, não só nos Estados Unidos, como também em muitos países, inclusive o Brasil.” Em sua opinião, tais mudanças são mais negativas do que positivas. Isso porque os princípios bíblicos estão sendo deixados de lado na sociedade atual. “Nossos jovens precisam de verdadeiros mentores, para que haja equilíbrio espiritual”, defende a pregadora. Ela lembra que vários jovens acabam se distanciando das igrejas e, consequentemente, do contato com a Palavra, ao ingressarem nas universidades. “Percebemos, pelas pesquisas, que o crescimento do Evangelho hoje é menos acelerado entre os jovens, em especial aqueles que são estudantes universitários. Infelizmente, o maior número de brasileiros sem religião está na faixa de 15 a 24 anos. Muitos acreditam em Deus, porém rejeitam o envolvimento com instituições de fé. No entanto, como cristãos, vamos seguir falando do amor restaurador de Cristo. Sabemos que a Palavra de Deus não volta vazia.”

A Pra. Nadir Cristina da Silveira alerta: “Vivemos em um período de profunda mudança espiritual e social, não só nos Estados Unidos, como também em muitos países, inclusive o Brasil” – Foto: Arquivo pessoal

Excesso de informações – Segundo o Pr. Eduardo Medeiros, 41 anos, auxiliar na Igreja do Evangelho Quadrangular de Tingui, em Curitiba (PR), a diferença entre a geração z e as anteriores está no excesso de informações a que ela está exposta. Nesse sentido, a Bíblia é mais um elemento que apresenta curiosidade, mas que acaba se diluindo, em meio ao que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) chamou de modernidade líquida, ou seja, volátil, em permanente transformação. [Leia, nas páginas 58 e 59, o quadro Sem significado]

O Pr. Eduardo Medeiros pontua: “Nossa missão, enquanto cristãos, é compreender este tempo pós-moderno para termos consciência de que forma o Evangelho de Cristo deve ser apresentado” – Foto: Arquivo pessoal

De acordo com Medeiros, essa volatilidade faz valores absolutos serem desintegrados e substituídos por inúmeras verdades relativas. “Essa é a sociedade em que vive a geração z, em que todos vivemos. Nossa missão, enquanto cristãos, é compreender este tempo pós-moderno para termos consciência de que forma o Evangelho de Cristo deve ser apresentado, para dar resposta aos anseios e sofrimentos dessa geração”, pontua.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) cunhou o termo modernidade líquida para se referir ao período histórico atual: volátil, em permanente transformação – Foto: Divulgação

O pregador lembra que as expectativas dos jovens da atualidade não são, definitivamente, as mesmas das gerações anteriores. “Podemos citar os índices de depressão em adolescentes que nunca foram tão altos”, avalia. Ele destaca que hoje, mesmo com toda a conectividade disponível, a qual possibilita as pessoas conversarem com gente de todas as partes do mundo por meio das redes sociais, a humanidade nunca esteve tão solitária. “Esse paradoxo pode ser um excelente ponto de partida para introduzir as Escrituras e Deus, que nunca abandona Seus filhos.”

O diácono Ednaldo Rodrigues Mourão da Silva se lamenta por grande parte dos jovens estarem dedicando bastante tempo a aparelhos eletrônicos: distração fácil – Foto: Arquivo pessoal

Membro da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra em Rio das Pedras, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), o diácono Ednaldo Rodrigues Mourão da Silva, 28 anos, concorda com Medeiros e ressalta que o excesso de informações oferecido pela internet tende a tornar os jovens mais dispersos. Para ele, essa superexposição de informes compromete a atenção deles, capacidade essencial para o exercício da leitura da Palavra e do estudo bíblico. “É notório que, atualmente, grande parte dos jovens dedicam bastante tempo a aparelhos eletrônicos. Embora isso tenha acarretado algumas facilidades, como acessar recursos relacionados à Bíblia, muitos se distraem facilmente”, lamenta-se.

Ednaldo Silva acredita que, atualmente, a prioridade das pessoas tem sido as próprias realizações. Portanto, elas estão imbuídas de uma incessante busca pelo sucesso. “Muitos se esquecem da importância de buscar o Reino de Deus em primeiro lugar, como está escrito em Mateus 6.33. Louvo ao Pai por fazer parte de um movimento de jovens que ainda não desistiu de anunciar o quanto o Senhor é bom!”

“Fora dos templos” – De fato, não há conhecimento de uma geração que tenha recebido tamanha quantidade de informações como a atual. O Pr. Igor André, 31 anos, da Assembleia de Deus de Bonsucesso, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), salienta que, embora seja uma geração bem-informada, nem sempre conhece aquilo que é relevante. “Como líderes e pessoas que influenciam, precisamos gerar estímulos necessários para a próxima geração amar a Deus, à Sua Palavra e desejar estar envolvida com Ele.”

O Pr. Igor André observa: “O papel do cristão é fazer diferença dentro e fora dos templos. Quando ele estiver fora, não pode perder de vista os ensinamentos de Cristo” – Foto: Arquivo pessoal

De acordo com o líder, a geração atual vem sendo encorajada a fazer a diferença fora da Igreja, evangelizando ou pregando. No entanto, em meio a esse processo, alguns acabam se envolvendo com as coisas deste mundo. “O papel do cristão é fazer diferença dentro e fora dos templos. Quando ele estiver fora, não pode perder de vista os ensinamentos de Cristo.”

No entendimento de Igor André, esse é um momento desafiador para a Igreja. “O nosso cenário tem grande probabilidade de ser devastador, mas ainda temos o bastão em nossas mãos e podemos ser agentes de Deus, para a próxima geração ser melhor do que a nossa”, destaca. O ministro lembra o que foi dito pelo profeta Joel: Vossos filhos e vossas filhas profetizarão (Jl 2.28). “Isso se cumprirá em nosso tempo. Quando Joel profetizou, o povo vivia uma situação caótica, entretanto ele declarou que a próxima geração seria melhor. E esse ainda é o grito da Igreja atual. Temos o dever e a responsabilidade de testemunhar e gerar o engajamento da próxima geração. Faremos isso para a honra e a glória do nosso Deus”, conclui.

Sem significado

A geração z, os nascidos de 1995 até o início de 2010, tem como principal característica a fluidez. Para eles, nada é absoluto ou dura para sempre. Esse pode ser um dos motivos pelos quais os gen z estão tão distantes da Bíblia.

De acordo com a pesquisa Estado da Bíblia, da Sociedade Bíblica Americana, a maioria dos gen z não creem que as Escrituras sejam a inequívoca Palavra de Deus, capaz de orientar o ser humano em todas as áreas da existência. A sondagem mostrou que 45% deles discordam total ou parcialmente da seguinte afirmativa: A Bíblia contém tudo aquilo de que uma pessoa precisa saber para ter uma vida significativa. Além desses, 27% nem concordam nem discordam da frase.

Nem mesmo a crise na saúde mundial devido à covid foi capaz de fazer os adolescentes e jovens da geração z se envolverem com a leitura bíblica. Pelo contrário: 27% deles se mostraram mais propensos a reduzir sua proximidade com o Texto Sagrado por causa da pandemia. A próxima geração de adultos norte-americanos – a geração z – está atualmente em um momento de profundo crescimento e mudança, declarou John Farquhar Plake (foto), diretor de ministério e Inteligência da Sociedade Bíblica Americana.

Foto: Reprodução / Twitter

Para Plake, as mudanças experimentadas pelos gen z, nessa fase, irão marcar a história deles daqui para a frente, do ponto de vista físico, espiritual, social e psicológico. Muitos da geração z estão se tornando adultos sem a sabedoria e o conforto que outras gerações têm encontrado na Bíblia. Mais do que as outras, a geração z não está convicta acerca do valor e da singularidade das Escrituras para a própria vida.

Na opinião de John Farquhar Plake, é tempo de a Igreja se engajar e buscar responder, de modo honesto, aos questionamentos desses adultos emergentes. A Bíblia oferece sabedoria para todas as gerações. Em vez de permitir que a geração z se volte para a influência secular ou para a cultura, em busca de respostas às suas dúvidas e curiosidades, é nossa tarefa comunicar-lhes claramente essa esperança e essa verdade.

Afinal, nem tudo está perdido: ainda que não veja a Bíblia como a eterna e inquestionável Palavra de Deus, ou que não reconheça Sua autoridade como Texto Sagrado, a análise mostrou que a geração z está disposta a conhecer as Escrituras. O estudo aponta que 81% dos gen z jovens e 74% dos gen z adultos se disseram curiosos a respeito da Bíblia. Além disso, 64% dos gen z jovens declararam que gostariam de lê-la mais. O tempo mostrará se toda essa curiosidade e todo esse interesse levarão os jovens a uma maior exposição, engajamento e, eventualmente, percepção do impacto positivo das Escrituras sobre a trajetória deles, informou o texto de apresentação da pesquisa da Sociedade Bíblica Americana. (*Colaborou Élidi Miranda, com informações de State of The Bible e American Bible Society)


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